quinta-feira, 23 de abril de 2015

SAUDOSA E INESQUECÍVEL ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE ANTONIO BEZERRA.


O projeto da construção da estrada de ferro ligando a cidade de Fortaleza a cidade de Sobral passando pela cidade de Soure (antigo nome da cidade de Caucaia), entre outras cidades do interior cearense, teve o contrato assinado em 15 de Abril de 1872 pelos senhores Antonio da Cruz Guimarães e José Joaquim Guimarães, com a Companhia da Via Férrea de Baturité, que fora inaugurada em 25 de Junho de 1870, administradas pelos Srs. Senador Pompeu, Joaquim Cunha Freire, (Barão de Ibiapaba), Gonçalo Batista Viera (Barão de Aquiraz) além do Engenheiro José Pompeu de Albuquerque e o Engenheiro Inglês Heney Brochhust, mas este projeto não foi realizado por questões políticas.
Em 30 de Março de 1873, era inaugurada a estação ferroviária do Arroche. Na época, era município, que acabou sendo anexado a cidade de Fortaleza nos anos 1920. Em janeiro de 1944 teve o nome alterado para Parangaba, por determinação do CNG - Conselho Nacional de Geografia, sendo a segunda estação ferroviária a ser construída, a primeira foi a João Felipe. Em 1909 foi iniciado a construção da linha férrea norte de Fortaleza a cidade de Sobral, publicada pelo decreto nº 9.657 de 10 de Julho de 1910. Trabalhos realizado pela firma Inglesa “The South American Railway Construction Company Limited ” O projeto original tinha a linha férrea em sentido tangente que iria de encontro ao vilarejo do Tabapúa, passando pela aldeia dos índios Tapeba, por estes motivos o projeto foi modificado que teve que fazer um enorme contorno depois do Barro Vermelho, que hoje e conhecido como “ Volta da Jurema”.
Em 25 de Agosto de 1915, a firma inglesa passa o comando administrativo para a RVC (Rede Viação Cearense) que inicia a construção final da linha férrea Fortaleza a Soure inaugurada em 12 de Outubro de 1917 com uma extensão de 19,600 km de linha férrea. A Inauguração solene aconteceu na estação do Barro Vermelho, batizada como o nome de “Mestre Rocha”, estiveram presente o diretor da R.V.C, Engenheiro Henrique Eduardo Couto Fernandes, além de várias autoridades políticas e religiosas. Estiveram presente à solenidade vários moradores do Barro Vermelho entre eles Antonio Bezerra de Meneses, que inaugurou e estação, em seu discurso solene agradeceu em nome dos moradores a construção desta estação ferroviária que traria progresso ao Barro Vermelho. Somente em 1950 foi concluída e estrada de ferro ligando Fortaleza a Sobral
O prédio da saudosa estação Ferroviária do Barro Vermelho como ficou conhecida, era em estilo colonial inglês. Ficava situado no final da plataforma atual. Era composta de uma linha férrea que passava pelo lado esquerdo e outra pelo lado direito que encontrava-se logo adiante, como e atualmente. Existia três compartimentos: no primeiro, funcionava a sala do telégrafo, com janelas para cada lado; no segundo ficava a bilheteria e administração da estação e o terceiro ficava o deposito de cargas. Ao lado existia vários bancos de madeiras, o telhado era em estilo tesoura onde existia um sino pendurado no teto no lado direito que anunciava com fortes badaladas a chegada e saída dos trens. A cor da fachada era sempre amarela com letras pretas identificando a parada, primeiro, Barro Vermelho, depois Antonio Bezerra e logo acima a logomarca da RVC e depois RFFSA. Não existia grades ou cercas a seu redor. Era tudo aberto.
Em 1957 a RVC passa a ser RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A), em 1996 passa para RFN (Rede Ferroviária do Nordeste). Em 1988 com a criação da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) são implantadas novas plataformas nas antigas estações ferroviárias da capital. O prédio da nossa estação e demolido impiedosamente para construção da atual estação. Já a antiga estação ferroviária da Parangaba foi preservada através de movimentos de preservação histórico e cultural. Foi Tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal em 18 de janeiro de 2007, depois de várias ameaças de demolição. Já a nossa deveria ser preservada e tombada, mas não existiu interesse de preservá-la por parte das lideranças políticas e culturais do nosso bairro.
Hoje a estação ferroviária de Antonio Bezerra e administrada pela METROFOR (Companhia Cearense de Transporte Metropolitano de Fortaleza) o Metrofor e responsável pela administração, construção e planejamento do sistema de metrô na cidade de Fortaleza e sua região metropolitana.
Hoje passado quase um século de sua inauguração, 98 anos de existência, muita coisa mudou. Os transportes ferroviários evoluíram, o que antes eram trens a vapor transformaram-se em trens elétricos, já estamos na era do metrô subterrâneo e de superfície, já utilizamos modernos sistemas de interligações de transportes urbanos. O progresso e as novas tecnologias modificam e ao mesmo tempo destroem um passado nostálgico, quando uma simples chegada do trem era motivo de festa nas vilas e cidades cearenses. A pequena estação ferroviária do Barro Vermelho, hoje apenas estação de Antonio Bezerra, ficaram apenas lembranças esquecidas nos registros da história dos transportes ferroviário. Ela teve seu papel na formação inicial do nosso bairro, tendo sido um marco histórico referencial em termos de transporte ferroviário do Ceará.

Valentim Santos.
Professor, Historiados e Sociólogo.




  


Sr. AQUINO, UM HOMEM SEMPRE A FRETE DO SEU TEPO.



Relembrando os antigos moradores da Av. Mister Hull, que foram testemunhas oculares de um passado nostálgico, onde abrigou os primeiros moradores que foram marcos na história do nosso bairro de Antonio Bezerra, que é o primeiro bairro para que chega a cidade de Fortaleza e o ultimo para que sai da cidade para a zona norte. Destacamos entre vários moradores um personagem que contribuiu para o engrandecimento do nosso bairro, esquecido pelo tempo e pelas novas gerações.
 Este homem sempre esteve a frete do seu tempo, um sonhador, um idealista, um socialista, é sobre este homem que vamos relembrar, sua trajetória, suas realizações e persistência.
Existiu na esquina da rua Dr. Vale Costa com a Av. Mister Hull, onde hoje está localizado um condomínio residencial, uma residência e ponto comercial de n 4915 pertencente ao Sr. Aurélio Uchoa de Aquino, mas conhecido como Seu Aquino. Nascido na cidade de Lavras da Mangabeira em 1918, veio para a cidade de Fortaleza em meados de 1930 para residir, em janeiro de 1957 comprar uma residência no então Barro Vermelho onde passa a morar com a família. Em março de 1958 inicia em sua residência um comercio de tecidos e alumínio, vale ressaltar, que foi a primeira e única loja de tecidos do bairro até o presente momento.  Sua casa era alta com duas portas grandes além de duas janelas.
Dentro da loja existia um balcão de madeira que dividia o espaço entre cliente e seu Aquino que geralmente atendia seus fregueses com grande cortesia. Ao fundo da loja existia três prateleiras de madeira, duas repletas de tecidos, onde podia-se encontrar peças de Tricoline, Brim Inglês, Tergal, Chita, Mescla, Popeline e Volta ao mundo, tecidos usados na época, além de uma variedade de produtos e assessórios como zíper, botão, agulhas e uma variedade de linhas de cores. Na outra prateleira era repleta de bacias, panelas de alumínio. Seu Aquino tinha uma clientela dos mais variados bairros tais como Floresta, hoje Padre Andrade, Casas Populares, (Henrique Jorge) Coqueirinho (Parquelandia) Boatan (Parque rio Branco) e adjacência.
Seu Aquino gostava muito de política partidária, sempre lia muito jornais e revista além dos livros a maioria socialista. Homem de ideias marxista-leninista, era simpatizante do Partidão como era conhecido os integrantes do PCB. Tive o privilégio de conhecê-lo e discutir muitos temas políticos nacional e internacional, era uma enciclopédia de conhecimentos de uma cultura fascinante.
Chamado pelos conservadores de comunista. Chegou e ser preso pelos militares em 1965, juntamente com outros simpatizantes do PCB no bairro, entre eles: Sr. João Lima, Juarez, Antonio Silva e meu pai José Augusto além de outros. Foram libertos horas depois pelo Dr. Ruy Farias.
Era casado com D. Maria Hilza Botão de Aquino, deste casamento tiver os filhos: Luiz Botão de Aquino, Roberto Botão de Aquino, Aurélio Botão de Aquino Filho, Heloisa Botão de Aquino, Auriza Botão de Aquino, Marisa Botão de Aquino e Ivan Boatão de Aquino.
Em 1973 Seu Aquino decide iniciar um novo tipo de comercio, vende sua casa para a família Romcy e compra um imóvel residencial pertencente ao Sr. Expedito na rua Tenente Queiroz esquina com a rua Coronel Joaquim Leitão, compra a sorveteria EDU pertencente ao Sr. Carlos Eduardo, onde passa a industrializar sorvetes e picolés. Posteriormente transformada em Sorveteria Suk Bom, atualmente tem o nome comercial de Sorbetto que atua no mercado de sorvetes desde 1991, tendo como seu fundador o Sr. Roberto botão de Aquino, que não por acaso tinha como referência e herdado o gosto por essa atividade do seu pai   Aurélio Uchoa de Aquino, homem íntegro, do qual adquiriu valores morais e éticos incontestáveis.
Em 2009 seu Aquino recebe a “ Comenda Barro Vermelho” concedida pelo Conselho Comunitário de Defesa Social do Bairro, homenageando aos 70 anos de fundação do bairro. Esta medalha e o reconhecimento daquelas pessoas que prestarão grande serviço ao nosso bairro.
Em 27 de maio de 2010 seu Aquino veio a falecer, deixando um imenso vazio na vida política e comercial do nosso Antonio Bezerra.


Valentim Santos
Professor, Historiador e Sociólogo.