terça-feira, 30 de agosto de 2011



BODEGAS QUE RESISTEM AO TEMPO.
 
Bodega tipo adega do interior cearense.
   As bodegas podem ser consideradas como uma pequena venda de produtos secos e molhados, sua etimologia vem do latim apothéca, lugar onde guardam comestíveis, e do grego apothêke, deposito, armazém, adega, taberna.  As bodegas são de origem milenar e possuem sua origem difusa. Nascidas no oriente persa provêm dos primeiros bazares ambulantes que acompanhavam os exércitos nas cruzadas. Os mercadores geralmente tinham quase tudo que a população precisava. Eram nas bodegas cearenses, pernambucanos, alagoanas e paraibanas, que o Capitão Ferreira Virgulino, mas conhecido como “Lampião”, infiltrava espiões para ouvir conversas e sondar as andanças das volantes policias. Ninguém poderia imaginar que um cego ou aleijado, seria os agentes secretos de Lampião. Os mesmos ficavam nas bodegas a ouvir conversas e mexericos que eram repassados prontamente para o cangaceiro. 
  
  Bodega e alegria. 
O comércio das bodegas ainda resistiram como atividade comercial, não só em Fortaleza, mas em todo o interior do estado. Com a variedade de produtos que começaram a ser comercializados, passaram a se denominar de mercadinhos e com a sua expansão física transformaram-se em embriões dos grandes supermercados. Muitos proprietários desses supermercados hoje são advindos dos pequenos comércios que eram as bodegas de outrora uma época bem recente.

As bodegas fazem parte de nossa história e falar nelas é mergulhar no tempo nostálgico, é reviver fatos de nossos antepassados. Basta fecharmos os olhos para lembramos imagens que ficaram perdidas no tempo. “Quando eu era menino, meu pai me levava para a bodega Azul do seu Raimundo Nonato. Lá, eu saboreava pão de côco com refresco de Cajá e saboreava os tijolinhos de goiaba. Lembro-me da final da copa do mundo de 1962, quando o Brasil foi bicampeão de futebol. Nós estávamos na bodega Brasília do Senhor Djacir, todos reunidos para ouvir o jogo, pois como naquela época não existia televisão, a moda era ouvir radio, lá existia dois rádios “de marca Sempre” a bateria, um em cada lado do balcão.” Nos relembra, Almir Cordeiro Filho, ex-atleta do Ferroviário e funcionário do frotinha, que se emociona ao falar sobre sua infância nas bodegas do bairro.

Bodega subida do Horto - Juazeiro -Cé
 Existe um relacionamento pessoal de cada bodegueiro com a comunidade onde um dos vínculos existente é a velha caderneta, onde comerciante e freguês controlam a venda dos produtos fiados. A hora de fazer compras na bodega é um momento de interação entre as pessoas que se reúnem naquele lugar e nas conversas umas com as outras são trocadas receitas de remédio para curar doenças, receitas de bolos, são dados conselhos sobre alguns problemas que um dos fregueses esteja passando e, é também o momento e o lugar onde se sabe quem casou quem se separou quem foi preso, quem morreu quem nasceu quem passou no vestibular, quem levou chifes, quem esta desempregado, quem compra e não paga, em fim sabe-se da vida dos moradores das redondezas.
Bodega comercial.
     A bodega é o espaço livre que se transforma na dispensa da casa do pobre. O dente de alho, o pacote de arroz, a garrafa de manteiga estão, disputando o mesmo espaço, com canos, torneiras, alicates, serrotes, uma variedade de mercadorias que satisfazem a clientela no preço, no prazo e, sobretudo, no atendimento personalizado a cada cliente. Lembro-me da bodega do seu Pergentino, seu comercio era uma autentica farmacopeia cearense, lá ele fabricava uma garrafada batizada por chá de pobre, dentro dela tinha cascas de embiriba, jatobá, tipi, camela, Tinha folhas de louro, boldo, manjericão, arruda. Raiz de carnaúba, pega pinto, tudo colocado dentro das garrafas prontas para o consumo imediato. Seu Pergentino dizia que servia para curar gripe, resfriado, coqueluche, tosse braba e dor de cabeça, além da tradicional dor de chifes.

Elas registre ao tempo.
Uma bodega que não sai da minha memória é a do Senhor Manuel da Padaria, que ficava na rua Manuel Soares, antigo beco da Estação ferroviária. Lá tinha tudo que uma dona de casa pudesse precisar: sabão pavão, gordura de côco, goma, farinha, pimenta do reino, cordas, toucinho de porco salgado, lamparinas, querosene a granel, manteiga, pão sovado entre outras coisas indispensável àquela época, em pequena quantidade, pois poucas pessoas compravam em grande quantidade como hoje. 
        
 No interior Cearense as poucas bodegas que ainda registem, principalmente na região do Cariri estão dando lugar as mercearias, mercantis e supermercados que superlotam as cidades do Interior cearense. Na cidade do Crato existe uma bodega conhecida como “bodega do Joquinha”. Lá por incrível que pareça, qualquer pessoa pode tomar banho. Banho com uma lata d´água, com direito a um pedaço de sabão, preço tabelado vai de R$ 2,oo a 5,oo reais.
  
Bodega Caldeira do Inferno - Brejo Santos - Cé.
  Na contramão da ordem natural do comércio, que transforma pequena venda em bodega, existe na cidade de Brejo Santo, uma bodega que seguiu o caminha de volta no tempo, e a Internacional bodega “Caldeira do Inferno”,  ela pertence ao Chico Sinésio que pretende comemorar o centenário da mesma com uma festa entre amigos. Ele explica que o nome Caldeira do Inferno não tem sentido profano. Ela e um ponto de encontro de amigos, políticos, aposentados, empresários, boêmios e transeuntes. Uma caldeira de ideias dos filhos e amigos da cidade de Brejo Santo. Nesta bodega não existe a figura do bodegueiro, ele gosta de ser chamado de “cão chefe da caldeira”.  
 
Homenagem a todos Bodegueiros. Chico Sinésio.
 Como podemos esquecer estes pequenos comércios de portas estreitas ou largas que resistem ao tempo com sua cultura e suas tradições? Como podemos esquecer-nos das bodegas da minha infância?. Como seu Pergentino, seu Antônio Nonato da “bodega azul”, seu Antônio Carolino, Luiz Padeiro, Djacir, Manoel da Padaria. Não podemos esquecer uma das primeiras do bairro a do Senhor Antonio Ramos, localizado na Rua Joaquim Leitão com José Leite Gondin. A do Franca Pinheiro, dona Mel( recem falecida) e outras tantas bodegas que fizeram parte da história comercial do nosso Barro Vermelho e hoje fazem parte da história do bairro Antonio Bezerra.
 Valentim Santos
                                                          Professor, Historiador e Sociólogo

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


                                LEMBRANÇAS DE UM PASSADO VIVO.


            A história de Fortaleza não está somente nos livros e fotos, está nas ruas, prédios e monumentos. Passando pelas ruas de Fortaleza, deparamos com vários prédios antigos, abandonados e esquecidos, quem parar vai vê que eles têm um valor histórico, cultural e artístico notável.
Eles estão firmes, enfrentando o a indiferença das pessoas, mas , mesmo assim, permanecem como testemunha ocular de uma Fortaleza que, durante décadas tiveram importância na história social, política e econômica desta cidade.
Estação João Felipe. Praça Castro Carreira - Fortaleza.
 Hoje, eles permanecem vivos, contando a história da capital cearense. Não é possível, saber o futuro de uma cidade, mas se pode imaginar como foi no seu passado. Por exemplo, podemos imaginar como era o Palacete Carvalho Mota, Palacete Brasil, San Pedro Hotel, Palácio da Luz, Excelsior Hotel entre outros. São alguns dos prédios localizados no centro de Fortaleza, que, durante anos tiveram importância na história política social desta cidade.
Hoje, esses monumentos estão desativados. A maioria deles está com suas estruturas físicas danificadas.
Conhecendo o passado, pode-se descobrir que, constitui-se um crime contra o patrimônio público o que aconteceu com o prédio do Centro Artístico Cearense. Localizado na esquina da Av. Duque de Caxias com Av. Tristão Gonçalves, centro, fundado em 1904, e tombado pela Lei Municipal nº 63 de 18 de junho de 1988. Foi demolido na calada da noite, indo ao chão não somente um prédio qualquer, mas 107 anos de história, arte da música e cultura cearense.

Palacete do Pastro - Praça do Ferreira i Fortaleza.
 No futuro, o que vai restar do nosso passado patrimonial? Como vamos contar para os nossos filhos e netos a história patrimonial de nossa cidade?.
Registrando e tentando mostrar a dura realidade destes fatos mencionados, é que chamamos a atenção, antes que desapareçam das lembranças do passado. Pois através de fotos dos principais prédios e monumentos históricos de Fortaleza, ainda restam um passado nostálgico,  uns abandonados, outros recuperados, mas ambos cheios de história para serem vistos e admirados.
Palacete Comendador Ananias - Instituto do Ceará.
      
Muitos lutam contra as especulações imobiliárias, poluição e degradação ambiental. Mas, suas estruturas arquitetônicas estão se mantendo erguidas e imponentes. Representando orgulho e tradição, para seus proprietários. Para que exista o presente temos que conservar o passado.
Felizmente 20 monumentos não foram totalmente destruídos, estão conservados e tombados, entre eles: “TEATRO JOSE DE ALENCAR, (localizado na Praça José de Alencar); PALÁCIO DA LUZ (localizado na Praça General Tiburcio,); PALACETE DO BANCO FROTA GENTIL (Localizado na rua Floriano Peixoto); PALACETE SENADOR ALENCAR (Localizado na rua Senador Alencar); CASA DE JUVENAL GALENO (localizado na rua General Sampaio); PRÉDIO DOS BORIS (Localizado na rua Boris); PALACETE BRASIL ( localizado na rua General Bezerril); SOBRADO DO POSTOR (Localizado na rua Major Facundo); PALACETE DOS GENTIL (Localizado na av. 13 de maio, prédio da reitoria); e SOBRADO DO SENADOR FERNENDES VIERIA. (Localizado na rua Floriano Peixoto), entre outros. 

Escola: Jesus, Maria e José - Centro.   




                                                  
 Muitos se encontram em péssimo estado de conservação e já perderam até as características que os tornaram patrimônio histórico, como a antiga escola Jesus, Maria e José, localizada na rua Coronel Ferraz centro de Fortaleza. Esse prédio, que pertence á Arquidiocese de Fortaleza, foi tombado, mas nunca foi recuperado.  Além de outros que foram destruídos impiedosamente, entre eles, a casa de Rodolfo Teófilo, casa de Dom Helder Câmera, casa do Barão de Studart e Palácio do Plácido. Recentemente a Prefeitura de Fortaleza decretou o tombou da casa onde morou Frei Tito de Alencar, localizado na Rua Rodrigues Júnior.

Hotel do Norte. Praça dos Marteres -Centro.
E preciso chamar a atenção do poder público para o abandono em que se encontram alguns edifícios de grande valor histórico e cultural, que estão sendo destruídos por falta de conservação, porém, permanecem vivos, contando a história da capital cearense. 
                                     
Excelso Hotel - Centro.
PRESERVE ANTES QUE SEJAM COMPLETAMENTE DESTRUÍDOS E FIQUEM SOMENTE NAS FOTOS COMO LEMBRANÇAS.

Valentim Santos.
Professor, Historiador e Sociólogo

sábado, 6 de agosto de 2011

ORIGEM DAS FEIRAS
da Idade média a era moderna.

 Em todas as cidades do interior e alguns bairros das metrópoles existe uma feira livre de comércio, com dias determinados onde as pessoas se reúnem para comprar ou vender. São momentos festivos onde todos, independentes de sexo, cor ou religião, aproveitam como momento de distração.

Feira de Baturité - Ce. Frutas
     Sua origem é milenar. A primeira referencia citada sobre a feira esta na Bíblia, onde o salmista Marcos (11:17) descreve a fúria de Jesus Cristo ao entrar no templo em Jerusalém. Jesus  encontrou uma autêntica feira livre onde os cambistas vendiam e compravam; derrubou as mesas e os banco dos vendedores de pombos, e não permitiu que se vendessem qualquer objeto no templo. Porque ali era casa de orações e não feiras livres.Verifica-se a existência já naquele período histórico, a presença de comerciantes em determinados locais para comercializar.
 
Feira Medieval
                               
 Não sabemos ao certo onde ou quando foram realizadas as primeiras feiras comerciais na História. Existem fontes, onde podemos afirmar que, em 500 a.C. já se realizava essas atividades comerciais. Na Idade Média, notadamente na cidade da Fenícia, existem vestígios da existência de feiras onde se negociavam produtos comerciais, provenientes das novas rotas marítimas, pois os fenícios dominaram todo o comércio no continente mediterrâneo.
A etimologia da palavra feira vem do latim “feria” que significa “dia santo ou feriado”. No inicio da era cristã os camponeses negociavam seus excedentes comerciais nos pontos de maior movimentação do povoado ou em cidades que eram aos redores das igrejas, por ser um local de maior fluxo de pessoas. La eram negociados todos os produtos que a população necessitava.
No final do século XI, mas precisamente no declínio do sistema feudal, encontramos o crescimento das feiras medievais em toda a Europa, proveniente do surgimento de uma nova classe social ascendente que foram à burguesia.
Com a realização das Cruzadas e a ampliação do comércio marítimo no Mediterrâneo, os europeus puderam ter acesso aos produtos proveniente do Oriente, as mercadorias exóticas como o cravo, pimenta, seda e porcelana entre outros, passaram a ser comercializados em feiras. Eles surgiam nas cidades comerciais que se desenvolviam fora das muralhas dos núcleos urbanos primitivos chamados de burgos. Os burgos surgiram na baixa Idade Média, na época da decadência feudal.
Artesão, burgo baixa idade média.
  A feira medieval instalava-se em rotas comerciais que facilitavam aquisição de produtos entre caravanas migratórias. Nas feiras constantemente apareciam os saltimbancos e outros tipos de artistas mambembes, como músicos e cantores que procuravam atrair publico para suas apresentações, com o passar dos séculos ainda encontramos este tipo de manifestação cultural nas feiras de um modo geral.
No esplendor da era renascentista, o comércio nas feiras tornaram-se centros econômicos e demográficos. Tornando-se necessário a criação e uso de moedas que passaram a circular entre os comerciantes, com isto desenvolveu o surgimento de bancos e câmbios nas próprias feiras. 
 
Mercado Europeu.
  Com o crescimento populacional dos centros urbanos, surgia um novo tipo de comércio paralelo que foi o mercado. Originalmente o termo mercado era o local na qual os compradores e vendedores se encontravam para trocar e vendas de bens de consumo. Existiam os mercados genéricos e os especialistas onde uma só mercadoria era trocada, exemplo, mercado da carne, animais, etc. Qual seria a diferença entre mercado e feira? Leo Hubermam em História da riqueza do homem (1959),Editora,Zahar,1976.p.31,define que mercados eram pequenos comércios, negociados com os produtos locais, em sua maioria agrícola. As feiras, ao contrário, eram imensas, e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras precedentes do Oriente e Ocidente, Nordeste e Sul.

Feira periférica. Antonio Bezerra. Fortaleza
    No mundo moderno, as feiras livres ficam no segundo plano no contexto comercial, tendo em vista que, o que predomina hoje são os grandes e pequenos aglomerados chamados de supermercados. Eles substituem as feiras livres e até mesmo, o comércio natural da cidade, ao se considerar que tudo que se busque para o dia-a-dia do ser humano, encontra-se nos supermercados. Dentro deste complexo de comércio existem as subdivisões que funcionam como empresas individualizadas, com todas as funções próprias e independentes, trabalhando a sua própria realidade. 

Candidato em Campanha na Feira Livre.
  A feira exerce um fascínio nas pessoas, com sua magia secular, na forma de cultura arte e poesia, pois todas as formas de artes esta ligada a feira. Na própria literatura encontramos referência sobre ela, nós Fenícios, Egípcios, Romanos e Árabes. A feira não esta somente nas cidades, nem nós países do 3º mundo. Hoje ele continua vivo nos países mais evoluídos do 1º mundo. A feira e um templo onda aglomera todo tipo de pessoas, se observamos notamos que todos os freqüentadores estão sempre alegres, lá estão os pobres, ricos, religiosos, os políticos. A feira e uma forma de comunicação popular verdadeira, lá se sabem de tudo, escuta-se tudo, fala-se de tudo. Lá encontramos os mais variados tipos de comércio, se queremos qualquer coisa, e só procurar na feira, pois na certa vamos encontra.

VALENTIM SANTOS
Professor, Historiador e Sociólogo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

ORIGENS DOS MONUMENTOS.



Andando pelas praças das cidades geralmente encontramos monumentos emoldurando seus espaços físicos, tanto artisticamente como arquitetonicamente. Mas a final o que e um monumento e para que serve? 
Padre Cícero- Juazeiro do Norte -Cé.
 Um monumento é uma estrutura construída por motivos simbólicos ou comemorativos, mais do que para uma utilização de ordem funcional. Os monumentos são geralmente construídos com o duplo propósito de comemorar um acontecimento importante, ou homenagear um personagem ilustre, e, simultaneamente, criar um objeto artístico que aprimorará o aspecto de uma cidade. Seu valor pode ser por antiguidade, tamanho ou significado histórico.
Etnologicamente, a Palavra monumento é de origem latina e provém do verbo “monere”, que significa lembrar. Segundo o historiador de arte Alois Regl, é toda obra criada pela mão do homem e construída com a finalidade de conservar sempre viva e presente na consciência das gerações futuras, a lembrança de determinada ação ou de uma existência. Segundo a tradição francesa, no Brasil, a construção de monumentos históricos ocorre como forma de legitimar alguns fatos e mitos fundadores da nação e de promover uma pedagogia do cidadão. As estátuas e monumentos históricos vão sempre lembrar os heróis nacionais.
No decorrer da história, sempre existiu desde a mais remota antiguidade, o interesse em edificar monumentos por parte das diferentes sociedades. As famosas pirâmides religiosas construídas pelos egípcios são exemplos disso. Os romanos erigiram monumentos em reverencia aos seus deuses. De modo geral, as sociedades antigas construíram belas edificações que, infelizmente, não resistiram á destruição humana ou ação impiedosa do tempo. Até mesmo durante o Antigo Regime, assistimos à construção de estátuas de monarcas europeus.
No entanto, naquela época, era bastante comum erigir em praças, parques e jardim, estátuas e monumentos em homenagem aos grandes vultos de nossa história. Era a chamada estátua, termo definido pelo historiador Francês Mauricio Agulhon, para designar o desenvolvimento da escultura em praças públicas com objetivo de se promover o civismo, fenômeno este que se inicia em meados do século XIX, na França, se estendendo por diversos países, inclusive no Brasil.
 
D. Pedro I - 1862 .
      O primeiro monumento histórico construído no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império brasileiro, em 1862. Trata-se da estátua do Imperador D. Pedro I, localizado na Praça Tiradentes. 

General Tiburcio. - 1888.
    Já a primeira estátua construída no Estado do Ceará, foi inaugurada em 8 de abril de 1888, na Praça General Tiburcio, popularmente conhecida como “Praça dos Leões”. A estátua foi fundida em Paris, para homenagear o herói cearense, morto na guerra do Paraguai, Antonio Ferreira de Sousa, General Tiburcio. Nossos monumentos têm sempre algo a nos dizer sobre a nossa história, sobre o nosso passado, mas por diversos motivos, muitas vezes não paramos para olhar.


Valentim Santos.
Professor, Historiador e Sociólogo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

HISTÓRIA ABANDONADA. HOTEL DO NORD.




               
Hotel do Nortd.     -  Foto Valentim Santos
                   
 A história de Fortaleza não está somente nos livros e fotos, esta nos prédios e monumentos que são testemunha ocular de uma cidade que cresce rapidamente, mas que deixa vestígio do seu passado, sendo hoje aceito e admirado por todos.
 Vamos descrever a historiografia de um dos mais tradicionais hotéis de nossa cidade, o saudoso Hotel do Nord ou mais popularmente conhecido na década de 30 e 50 como Hotel do Norte. Ele este localizado no centro de Fortaleza. Situado no entorno da Praça do Passeio Público e tem como proprietário atual o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil).
Tombado pelo patrimônio público estadual através do decreto lei nº 23.829/95 em 29 de setembro de 1995, é integrante do patrimônio histórico do Ceará. Sua edificação data do inicio do século XIX e pertencia ao Senhor Silvestre Randal. Inaugurado em 1895, tendo como proprietário o Francês Norberto Golignac, o hotel foi considerado uma das primeiras edificações hoteleira a cidade. Foi o primeiro hotel com serviços de locação de veículos para solenidades, o que naquela época era uma modernidade.

Foto Hotel do Nortd - 1890.
 
 
Em 19 de abril de 1895, foi fundada em suas dependências a Sociedade União Cearense formada pela alta sociedade local. Em 17 de março de 1897, alí passou a funcionar a agência dos Correios, que foi transferido do prédio da Assembléia Legislativa, onde funcionou até 1934, quando foi transferido para o prédio atual.
Em 1935, o prédio foi comprado pela “ THE CEARÁ TRAWAY LIGHT & CIA LTDA”, companhia Inglesa que explorava a energia e os bondes da cidade. “Essa empresa foi comprada no valor de 187 mil Libras Esterlinas pela Companhia Ferro Garril do Ceará” de propriedade do Coronel Tomé A. da Mota. Em 1948 o serviço de energia elétrica ficou a cargo do Governo Municipal através do Decreto Federal nº 25232/48, tendo a companhia passando a chama-se SERVILUZ (SERVIÇO DE LUZ E FORÇA DO MUNICIPIO DE FORTALEZA) que funcionava no mesmo prédio.
Em 12 de março de 1963, foi criada a CONEFOR (COMPANHIA NORDESTE DE ELETRIFICAÇÃO DE FORTALEZA). Continuando assim até 5 de junho de 1971 quando a CONEFOR foi transformada na COELCE ( COMPANHIA  DE ELETRIFICAÇÃO DO CEARÁ) funcionando no mesmo prédio ate 17 de abril de 1973  mudando-se para a Av. Barão de Studart, ficando o prédio abandonado por mais de 18 anos.
Em 11 de abril de 2001, o prédio desmorona parcialmente devido as fortes chuvas caídas intensamente na capital cearense. O referido prédio foi comprado recentemente pelo IAB, onde funciona sua nova sede, juntamente com o Memorial de Arquitetura do Ceará, e a sede da Orquestra Sinfônica do Ceará, além de promover eventos como a casa cor, etc.
O centenário prédio passará a ser de vital importância para a preservação e manutenção da nossa história. Este prédio que agora está totalmente recuperado guarda em suas históricas paredes um marco de referência histórica de uma cidade que crescia e tornava-se adulta. Preservar os prédios antigos de Fortaleza é preservar o nosso passado, resgatando a história do nosso povo.

   VALENTIM SANTOS
    Professor, Historiador e Sociólogo.











PINTO MARTINS UM CEARENSE ESQUECIDO PELO TEMPO.




Pinto Martins

Quem entra no Aeroporto Internacional Pinto Martins não imagina que foi Euclides Pinto Martins. Foi um político? Um empresário? Não. Ele foi um grande piloto cearense, nascido em 1892 em Camocim, logo aos 16 anos foi para a cidade de Natal (RN), onde entrou para a Marinha do Brasil, passando a pilotar navios. Aos 18 anos viajou para os Estados Unidos onde cursou Engenharia Mecânica, casou-se com uma americana. Voltando para o Brasil passou a trabalhar no DNOCS, depois de alguns anos volta para os Estados Unidos onde estudou aviação.
Em 1922, Pinto Martins idealizou um Rally New York Rio de Janeiro para comemorar o centenário da Independência do Brasil. Em 16 de agosto de 1922, ele decola da cidade de North River com um avião bi plano construído especialmente para esta viagem. Aplaudido por milhares de americanos que acreditavam na sua tentativa de atravessar o oceano Atlântico em um avião. Sua tripulação era composta de um mecânico, John Wilshusen, um jornalista de New World, Thomas Bye. Para documentar esta viagem o cinegrafista do Pathe, como piloto, ele entregaria ao americano John Balzer e como co-piloto Pinto Martins.
Como não havia aeroporto nesta rota estabelecida por eles, foi utilizado um avião hidroplano, seguindo uma rota sobre o oceano Atlântico. Este avião foi batizado com o nome de Sampaio Correia. Quando o avião se aproximava da baia de Guantama, em Cuba, sofreu uma pane no motor e caiu no mar das Antilhas. Flutuando, eles são socorridos pela patrulha marítima americana. Depois de vários dias eles partem da cidade de Pensacola na Florida em um velho avião, pois o primeiro havia se danificado na queda. 

   Em 3 de novembro de 1922, depois de várias escalas com sucesso na cidade de Port of Prince, o calor muito forte fundiu o motor do avião, nova parada foi necessária demorando um mês para a chegada de um novo motor e radiador. Novamente eles decolam no Sampaio Correria II para a fase final da trajetória.
Depois de voar mais de 100 horas e realizar um percurso de 180 dias finalmente eles chegam ao Brasil. A primeira cidade a pisar foi Belém, no Pará, seguindo depois para a cidade de São Luiz, no Maranhão, a próxima escala no Ceará, mais precisamente na cidade de Camocim, terra natal do piloto.

Homenagem da chegada de Pinto Martins a Camocim - Cé.

  Foram recebidos com grande festa pela multidão que queriam abraçar o herói da terra. A próxima escala Foi na cidade de João Pessoa, na Paraíba, e finalmente, em 8 de fevereiro de 1923, a comitiva chegou ao Rio de janeiro, onde foi recebida como heróis nacionais pelo povo carioca, sendo aplaudidos por uma verdadeira multidão. Houve desfiles pelas ruas com muitos fogos. Eles foram recebidos pelo Presidente Arthur Bernardes, que lhe outorgou a medalha Cruzeiro do Sul, lançando, na ocasião, um selo comemorativo pelo feito histórico, atravessar o Oceano Atlântico com um avião.  
 
Selo Comemorativo. 08-02-1923.
 Passados alguns anos deste acontecimento, o grande herói vai lentamente caindo no total esquecimento, passando despercebido, ele entra em depressão e em 12 de abril de 1934, Pinto Martins foi encontrado morto com um tiro na cabeça. Suicidou-se, por não suportou o anonimato. Não foi homenageado adequadamente com nome de rua ou avenida, apenas com um obscuro beco no bairro boêmio da Lapa. Mas em sua terra não foi esquecido completamente, pois foi dado seu nome ao Aeroporto Internacional de Fortaleza.
                                                     
Aeroporto Pinto Martins - Fortaleza - Cé
  Uma pena, mas a verdade é que nós, brasileiros, não cultivamos a memória dos nossos heróis, apenas lembramos quando lemos suas biografias. Mas nós historiadores estaremos sempre em buscar de personagens do passado, esquecidos pelo tempo. Sem o nosso trabalho não haveria vestígio do passado. 

             Valentim Santos.
            Professor Historiador e Sociólogo.



terça-feira, 5 de julho de 2011

CEMITÉRIO PÚBLICO DO BARRO VERMELHO.


 
Cemitério Público inaugurado em 1935.

Não existem registros precisos sobre a existência de um cemitério público nos primórdios da colonização do Barro Vermelho, hoje bairro Antonio Bezerra. Os primeiros registros sobre a existência de cemitério público na cidade de Fortaleza, datam de 8 de maio de 1884, quando foi construído o Cemitério de São Casemiro, localizado no campo da Amélia, hoje Praça Castro Carreira, conhecida como Praça da Estação. O campo foi construído em 29 de junho de 1830 em homenagem a imperatriz D. Amélia de Leuchetmberg. Foi construído em um campo de treinamento e hipismo. Projetado pelo engenheiro da Província, Juvêncio Manoel de Meneses, por ordem do Presidente da Província José Sarmento.  Localizava-se ao lado poente do campo, era murado e tinha uma capela na entrada do terreno que era dividido em dois lados. Na esquerda ficava o lado conhecido como o campo dos ingleses, onde geralmente eram sepultados os estrangeiros. Por ser próximo da praia, existia uma duna conhecida como Morro do Croata que devido aos ventos e a areia foi aterrando lentamente o cemitério, que foi demolido em 26 de fevereiro de 1880 onde foi construído, em abril do mesmo ano, o cemitério de São João Batista, no bairro de Jacarecanga.

Alguns moradores afirmam que seus antepassados falavam que naquela época era de uso geral as pessoas serem enterradas nos próprios sítios onde residiam, nas zonas mais distantes do centro de Fortaleza. Vários eram os motivos que levavam os moradores a agirem dessa forma. À distância e a falta de transportes dos corpos e por não existir lei sanitária que determinasse a obrigatoriedade dos enterros em cemitérios públicos. Como também pela falta dos mesmos em zonas urbanas. A lei surgiu somente em 1902.
Em 1910, surgem os primeiros cemitérios públicos urbanos como o de Parangaba e Mucuripe em 1914. Em 1935, alguns moradores do Barro Vermelho reuniram-se para a construção de um cemitério no bairro, dentre eles, destacamos: Sr. Manoel Rodrigues Venâncio, irmão do Sr. Cizisnando Rodrigues Venâncio, que construíram em um terreno localizado ao lado esquerdo do Patronato da Sagrada Família. Em 1937 com o alargamento das ruas do bairro foi modificada a sua estrutura para a atual, segundo nos informou o Sr. Antônio Braga Venâncio, sobrinho do Sr. Manoel Venâncio, que presenciou os translado dos seus restos mortais para o cemitério atual.
No cemitério de Antônio Bezerra estão repousando os entes queridos das principais famílias do bairro como: Couto Bezerra, Teixeira Campos, Giffony, Rebuça Brasil, Uchôa, Santos, Bezerra de Meneses, Matos Dourados, Pessoa e Mendes, dentre outros. O cemitério atualmente está lotado, sendo necessária sua ampliação. Por conta disso, algumas famílias já utilizam outros cemitérios de Fortaleza.

VALENTIM SANTOS
Professor, Historiador e Sociólogo